04 maio, 2005

Audaciosa melancolia...

Não quero que pensem que sou masoquista ao citar tantas vezes a solidão, a auto-suficiência e o prazer em estar sózinho em meu espaço (ou mesmo no meio de uma multidão em festa, num show, numa rave ou na praia lotada, lendo meus livros, minhas revistas, ouvindo minhas músicas e olhando o mar, o céu e as pessoas que passam), essa é minha natureza primária, mas eu adoro pessoas, me envolver com elas, com seus projetos, suas conversas, mesmo que muitas vezes só se fale banalidades; aí é que reside o encanto coletivo, esse mosaico em constante mutação de idéias e palavras. Mas quando estou sózinho, a intensidade me envolve, me concentro nos meus próprios interesses e mergulho no universo e, ao conversar comigo mesmo, tenho a nítida impressão de estar me comunicando diretamente com a essência da Vida.
Então se existe a base de um conceito de Deus que o ser humano criou, a origem é essa: a Vida é essa entidade poderosa que nos proteje e nos pune por nossas ações e reações diárias...

Essa poesia abaixo quem me mandou foi uma amiga maravilhosa,
que gosto muito e que, devido ao alto nível de afinidades, trocávamos muitos emails
falando exatamente da existência, esse mistério que se descortina em nossas mentes
segundo-a-segundo, por isso é tão apaixonante vivencia-la.

Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas
nem de grandes tempestades soltas,
pois eu também sou o escuro da noite...

- Para Francine Galvão, de Clarisse Lispector


A poesia abaixo fala da solidão de uma forma tão lúdica que me encantou no ato, não resisti e copiei-a do filme "Léolo" - aconselho que o peguem na locadora e assistam. É poesia em movimento:

À senhora...
Audaciosa melancolia...
que, com um grito solitário,
rasgou minha carne...
Que assombra minhas noites
quando não sei o que fazer da minha vida...
Paguei-lhe cem vezes
o que lhe devo.
Com as brasas de um sonho,
só me restam as cinzas
de uma mentira que você mesma
me ensinou á ouvir...
A branca plenitude
que não era como o antigo interlúdio...

Uma perversa morena
de cabelos lisos
que penetrou a pena com que escrevo
e que só me deixou o remorso de ter visto
o dia nascer sobre minha solidão.

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