31 maio, 2005

olhando a lua

Essa poesia escrevi durante o carnaval de 2004, quando percebi que o meu relacionamento com uma mulher incrível estava sendo diluído pela distância e pela própria vontade dela, ao se afastar de mim lenta e inexorávelmente.
A decepção, a dor e a consciência de que o fim seria inevitável me fez sentir simultâneamente a impotência perante o fato já consumado e a fúria de querer lutar contra algo que não era palpável nem visível, mas somente emoções que não tinha como controlar ou tentar ao menos administrar, o que me levou á dar vazão a um espírito urbano selvagem e agressivo, que reconheço, me supreendeu e até assustou um pouco, devido ao tom beligerante e sem limites com que me expressei, mas eu gostei do resultado final, pois descreveu exatamente o que estava sentindo em relação ás pessoas como um todo, em todo seu potencial meio idiota e insensível de ser em suas relações...



olhando a lua
ladre...
como um cão vira-latas
grite ao léu
seus pecados, seus medos, seus defeitos
bata com a cabeça
na parede
no muro
manche-os com seu sangue
vermelho escarlate
quente, cheio de vida
ainda pulsando fogo e paixão

bata
cabeça com cabeça
em seus inimigos
faça-os sentir
que você está vivo e furioso
olho por olho
dente por dente
mostre-lhes
que o mar
não está prá peixe
até tubarão
se esconde

acorde para a realidade
esqueça as ilusões
que você mesmo cria
saia desse mundinho
civilizado demais
nobre demais
que mais parece
um conto infantil

esmurre a vida
quantas vezes for necessário
para que ela te dê
aquilo que você quer

jogue pedras
insulte violentamente
ignore
amaldiçoe
vomite aos borbotões
sua indiferença
em quem te magoa

não deseje o mesmo
deseje mais
em dobro
multiplique ao infinito
tudo o que de ruim
te desejarem
te fazerem sofrer

ser legal com as pessoas
é uma virtude
que elas não desejam;
não suportam,
sentem asco perante um sorriso
generoso, sincero.
ser mau
é que é legal,
dá prestígio
te procuram sempre
prá levar mais porrada
porque isso faz com que elas
se sintam miseráveis
vulneráveis,
mais vivas
escravas da própria dor,
que queima como brasa viva
levando-as a um orgasmo doentio,
alimentando profundamente
uma auto-piedade
que elas não querem perder
jamais…

fique quieto...
ouça o seu silêncio...
cala a tua voz...
fique parado
olhando o mar
deixando-o tocar
violentamente
friamente
seus pés
na maré alta
na maré baixa

você não precisa de ninguém
nem de você mesmo
o vazio te basta
prá tantas desilusões,
te alimenta a alma
te trás a tona
de seu próprio oceano,
preenche tua vida
enche teus pulmões de ar
você respira
renasce
num parto sem dor
puro e limpo
como o princípio do mundo
antes de Adão e Eva

e você se basta
ali, quieto, sozinho
sorrindo
deitado na areia molhada
olhando a lua…

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